No dia em que se assinala o Dia da Igualdade Salarial em Portugal, 13 de novembro, reproduzimos um artigo de Ana Amado, diretora da WTW Portugal, publicado na Human Resources, sobre a evolução das diferenças remuneratórias entre homens e mulheres. Mulheres mais qualificadas continuam a ganhar menos do que os homens.
“Contas feitas, em 2020, as mulheres recebiam menos 13,3%.”
Hoje é o Dia da Igualdade Salarial. Mais um ano passou e a evolução dos números continua ténue. Se analisarmos a última edição do Barómetro das Diferenças Remuneratórias entre Mulheres e Homens, na sua 4.ª edição, publicada em Junho de 2022 pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento, podemos verificar os seguintes dados:
– As mulheres representavam 45% da força laboral do nosso país. É uma boa percentagem quando pensamos em igualdade e diversidade;
– Mas, em 2020, o salário base médio das mulheres era 13,3% inferior ao dos homens. Esta diferença aumenta para 16,1% quando consideramos a remuneração total.
Quando olhamos à realidade dos números, verificamos que, lamentavelmente, a evolução tem sido muito lenta: os 13,3% de GPG (Gender Pay Gap) em 2020, comparavam com 16,6% em 2015 e 17,9% em 2010.
Se formos um pouco mais específicos, conseguimos verificar os sectores onde o gap é maior. Para tal consideremos outro indicador, o GPG ajustado, que considera a ponderação do número de homens/mulheres existentes nesse sector (uma vez que existem sectores onde há um pequeno número de mulheres ou de homens que podem distorcer o GPG): as Indústrias Transformadoras apresentam um GPG ajustado de cerca de 15%, as actividades de Consultoria cerca de 13%, enquanto que as empresas de Electricidade, Gás, Vapor, etc. apresentam um desvio menor, na ordem de 1,3%.
A pandemia não ajudou a identificação destas situações, quer seja pela pouca fiscalização das autoridades competentes, quer seja pelo número diminuto de queixas: no decorrer do ano de 2020, deram entrada na CITE 27 queixas, uma redução de cerca de 33% face ao ano anterior (Fonte: Relatório sobre o Progresso da Igualdade entre Mulheres e Homens no Trabalho, no Emprego e na Formação Profissional 2020).
Definitivamente, Portugal precisa de melhorar a nível da igualdade salarial até porque temos uma população com uma percentagem bastante equilibrada de mulheres trabalhadoras, poucas mulheres em regimes de part-time (em 2020 trabalhavam a tempo completo 88% das mulheres) e também uma franja muito diminuta de mulheres que interrompem as suas carreiras para se dedicarem à família temporariamente. E mais importante, de acordo com os dados mais recentes do INE, as mulheres representam 60% da população com formação no ensino superior, ou seja, apesar de os números parecerem melhores, na realidade não são, pois temos uma percentagem maior (de mulheres) mais qualificada que recebe menos do que os homens para trabalho igual ou de igual valor.
Cada empresa que queira ser considerada uma empresa justa, cuja reputação permita atrair e reter os melhores talentos, independentemente do género, e, consequentemente, entregar maior retorno para o seu accionista, deverá analisar a sua política de remuneração e verificar, para cada função, quais os gaps salariais existentes e a representação feminina para todos os níveis da organização, de forma a ter uma ferramenta de apoio à reflexão, monitorização e promoção da igualdade remuneratória entre mulheres e homens.
Além desta análise, importa capacitar os responsáveis pela gestão de pessoas, para que não tenham enviesamentos no momento do recrutamento, das promoções ou dos aumentos salariais, visando o lema de por trabalho igual ou de igual valor, a remuneração tem de ser idêntica, independentemente do género.”
Por Ana Amado, director – Retirement na WTW Portugal